EXPOSIÇÕES INDIVIDUAIS

1981

INDIVIDUAL
FOTO-GRAFIAS _Galeria Mercado de Escravos, Lagos

1984

INDIVIDUAL
SAGRES1984
PROFANAÇÃO INTEMPORAL _Pousada do Infante, Sagres
“PROFANAÇÃO INTEMPORAL” é uma mostra de trinta e cinco trabalhos, a preto e branco, realizados entre 1982 e 1984. Inclui fotografias de várias séries, como a dos ” Objectos embrulhados”, na qual, ass umindo referências que vão de Lautréamont às paisagens cobertas de Christo, surgem imagens de carros, prédios, máquinas de construção e outros objectos que se podem encontrar embrulhados na paisagem urbana ou rural. Destas imagens, pela variação dos níveis de aproximação, ressaltam o seu carácter “estranho” em relação ao ambiente em que se inserem, a abstractização dos próprios objectos ou ainda a qualidade textural dos embrulhos.
Fora desta série, as fotografias mostram diferenças formais e intencionais, mas conservam a mesma especificidade na relação imagem/observador. Silhuetas recortadas em espaços e situações pouco identificáveis, objectos deslocados em ambientes onde se expõem, fazem surgir o mistério, por vezes a tocar as raias do nonsense , imagens em que a persistência das formas se faz sentir im portante.
Numa das salas, são apresentadas imagens de corpos ou fragmentos destes, rastos de si próprio pelo movimento impressionado, suscitando a ambiguidade em imagens fantasmáticas . Negando o instantâneo, a situação no espaço e no tempo (o presente), acentua-se o c ontinuum do registo (o intem poral). Negando-se à definição, nega-se o carácter referencial, a fidelidade ao objecto, restando imagens prolongadas no papel, reveladoras duma outra memória inatingível para a retina humana, e ocultando-nos a memória verosímil mas também ela degradável, reproduzida apenas pelo desejo do fotógrafo e ante os seus olhos.
“PROFANAÇÃO INTEMPORAL” do “Promontorium Sacrum” dos gregos e romanos, presente no próprio sentido do acto de fotografar…

1985

INDIVIDUAL
seriet
FOTOGRAFIAS 82-84 _Livraria-Galeria Quarto Crescente, Portimão

1992

INDIVIDUAL
jb1992
JOAQUIM BRAVO, REENCONTROS _Galeria Monumental, Lisboa

1993

INDIVIDUAL
LIMIARES_Museu Nacional de História Natural, Lisboa
LIMIARES_Casa de Artes, Porto
Trata-se de um conjunto de fotografias (cibachrome) em grandes dimensões de rostos fotografados sobre um fundo preto e com uma luz directa, tiradas num hospital entre 1991 e 92. São rostos serenos de pessoas, que tal como o título indica, se encontram num lugar de passagem, neste caso, no limiar da vida. Algumas acabaram por morrer e outras conseguiram encontrar o caminho de volta. Todas elas enfrentaram a possibilidade de morrer num hospital, afastadas dos olhares dos vivos.
“Devolver o rosto da morte ao nosso tempo, que o perdeu”, é, nas palavras de Luís Campos, uma das intenções desta série de imagens. As fotografias constituem o convite do artista para nos confrontarmos com uma presença que cada vez mais nos tem sido negada pela vida moderna, a daqueles que se encontram próximo da morte.

1994

INDIVIDUAL
transurbana1994
1994 TRANSURBANA _Museu Nacional de História Natural, Lisboa
1997
TRANSURBANA _Galeria Arco, Faro
A indiferença não é senão a manifestação da impotência.
Bourdieu
“Transurbana” é uma viagem através da cidade, em busca dos seus habitantes nos seus ambientes. Na pista das fronteiras dos guetos emergentes e das suas raízes, dos acantonamentos de refugiados dos pequenos sítios, das figuras em trânsito nos desertos cinzentos, dos horizontes entaipados, dos que não podem envelhecer com o ciclo das árvores.
Os olhares vagos, os rostos cansados, a solidão deambulante, os sem-nome, os sobreviventes, os guerreiros e os acoçados, os que esperam e os desesperados.
“Transurbana” é uma viagem através da realidade para criar uma ficção. A ficção de uma cidade tendencial, dividida.
Imagens que pretendem despertar o reconhecimento ou induzir o enigma, em qualquer dos casos convocar a emoção e quebrar a indiferença.
Retratos dos habitantes de uma metrópole, no seu ambiente… de Lisboa, por acaso.

1995

INDIVIDUAL
herois1995
A ÚLTIMA VISÃO DOS HERÓIS _Galeria Diferença, Lisboa
“A última visão dos heróis” é uma instalação fotográfica de dez cibachromes, exibida pela primeira vez na galeria Diferença, entre 28 de Setembro e 11 de Novembro de 1995.
Cada fotografia é dedicada a um herói e representa aquilo que poderia ter sido a sua última visão antes de morrer.
Esta imagem evoca esse momento último em que o herói se confronta com o seu destino de uma vida dedicada a uma causa ou ao constante desafio dos próprios limites e a morte eminente em consequência dessa escolha. Momento em que se condensam todas as emoções, todas as memórias, em que a determinação tem uma derradeira prova e os gestos de cobardia ou de heroísmo se tornam igualmente inúteis.
Imagens que se oferecem à contemplação do espectador, para serem confrontadas com a memória do herói que cada um tem, com os seus próprios fantasmas perante a morte do outro e a emoção de transcendência pressentida ou da eminência do nada.
Os heróis incluídos na série são: Humberto Delgado, Militão Ribeiro, José Dias Coelho, Chico Mendes, Amílcar Cabral, Steve Biko, Nicolau Lobato, Marsinah, Homa Darabi e Bobby Sands.
Na fotografia está inserido um pequeno texto com o título da série, o nome do herói, os anos de nascimento e morte, a actividade em que se notabilizou, o local, a data e as condições da morte. Este texto permite recontextualizar a imagem.
Perante esta série Jean Claude Lemagny comentou que a última imagem é provavelmente a única fotiografia da vida, o resto é um filme.

2000

INDIVIDUAL
MEMORIA_AGUA2002
MEMÓRIA DE ÁGUA _Galeria Luís Serpa Projectos, Lisboa
“A última visão dos heróis” é uma instalação fotográfica de dez cibachromes, exibida pela primeira vez na galeria Diferença, entre 28 de Setembro e 11 de Novembro de 1995.
Cada fotografia é dedicada a um herói e representa aquilo que poderia ter sido a sua última visão antes de morrer.
Esta imagem evoca esse momento último em que o herói se confronta com o seu destino de uma vida dedicada a uma causa ou ao constante desafio dos próprios limites e a morte eminente em consequência dessa escolha. Momento em que se condensam todas as emoções, todas as memórias, em que a determinação tem uma derradeira prova e os gestos de cobardia ou de heroísmo se tornam igualmente inúteis.
Imagens que se oferecem à contemplação do espectador, para serem confrontadas com a memória do herói que cada um tem, com os seus próprios fantasmas perante a morte do outro e a emoção de transcendência pressentida ou da eminência do nada.
Os heróis incluídos na série são: Humberto Delgado, Militão Ribeiro, José Dias Coelho, Chico Mendes, Amílcar Cabral, Steve Biko, Nicolau Lobato, Marsinah, Homa Darabi e Bobby Sands.
Na fotografia está inserido um pequeno texto com o título da série, o nome do herói, os anos de nascimento e morte, a actividade em que se notabilizou, o local, a data e as condições da morte. Este texto permite recontextualizar a imagem.
Perante esta série Jean Claude Lemagny comentou que a última imagem é provavelmente a única fotiografia da vida, o resto é um filme.

2002

INDIVIDUAL
aldeialuz03
ALDEIA DA LUZ _Galeria Central Tejo, Lisboa
Aldeia da Luz foi uma exposição-instalação de imagens obtidas na própria aldeia e nos seus arrabaldes, incluindo o Rio Guadiana, entre 2000 e 2001.
Aldeia da Luz é uma exposição sobre a perda, a perda da memória dos pequenos sítios, da identidade dos lugares, das pessoas, dos usos e costumes, a perda da sensação de pertença, perda que se acentua lentamente, global e inexorável, mas que é ainda mais brutal quando é decidida a prazo, provocada e repentina, como é o caso do Alqueva, como será a perda da Aldeia da Luz.
No entanto, a água que a vai submergir pode também ser encarada como a guardiã do que é submerso. Água que corre fluida, em movimento perpétuo, em permanente mutação, como a memória…
A apresentação foi feita em duas salas. Na primeira, sete projectores no tecto projectaram num chão coberto de água, em simultâneo, diapositivos a preto e branco, num total de 560. Estas imagens foram obtidas pelos habitantes da Aldeia da Luz a lugares ou objectos, dentro ou fora de casa, por que sentissem particular afecção, e que serão submersos após a subida das águas. Neste acto de fotografar está contido um sentido de luto mas também de substituição simbólica, tornando-se simultâneamente um acto de separação e de preservação. Na segunda sala apresentou-se uma série de fotografias do autor, a preto e branco, de 120cmx120cm, submetidas a processos de fragmentação, ocultação parcial, desfocagem e outros que de alguma forma pretendem evocar a acção do tempo sobre a memória.

2004

INDIVIDUAL
LIMBO _Luzboa Bienal Internacional da Luz, Lg. do Teatro S. Carlos, Lisboa
Instalação de arte pública, integrada na Bienal da Luz , LUZBOA , Junho de 2004
Entre o Céu e a Terra assistimos ao espectáculo do mundo. (Tema da LUZBOA )
Carlos Drummond de Andrade
Os artistas têm um importante papel na sociedade: o de serem considerados passadores, no sentido de Michel Certeau, como uma pessoa que move pessoas ou bens através de fronteiras ou para zonas proibidas.
Stuart Morgan
Limbo(s) (Latim tardio limbus ), palavra de derivação teutónica , significando literalmente margem ou fronteira. Imaginado aparentemente pelas tradições órficas, é colocado por Virgílio à entrada do Inferno (Eneida, 6, 426-429), lugar onde permanecem as crianças cuja vida foi breve. Esta ideia foi retomada pelo cristianismo para designar o lugar das crianças mortas sem baptismo, onde sofrem as consequências do pecado original, ou o local ou estado temporário das almas dos justos que, apesar de purificados de pecado, foram excluídos da visão beatífica até à ascensão triunfante de Cristo ao Céu. No uso literário o nome é por vezes empregue num sentido mais amplo e geral, referindo-se a qualquer local ou estado de restricção, confinamento ou exclusão e é praticamente equivalente a prisão.
Enciclopédia Católica
Limbo não é o Céu nem o Inferno, não é culpa nem graça, castigo ou recompensa, é uma existência intermédia, qualquer coisa que está entre . Corpos abandonados, despojados de identidade, do que foram e do que possuíram, suspensos entre o céu e a terra, entre a vida e a morte. Seres que libertaram demónios que não dominam e a eles hipotecaram o controle do seu destino.
Limbo é uma metáfora de um estado limiar onde poderemos já estar, enquanto indivíduos, povo ou humanidade.
A instalação assume a sua semelhança a uma capela ou igreja e a imagem da caixa de luz no tecto aparece como um motivo escatológico que, tentando incorporar as marcas da contemporaneidade, remete para as cenas pintadas nos tectos das igrejas.
A instalação permite resguardar a imagem, tornando-a visível apenas para quem entra na estrutura. O lugar, a forma e a música pretendem criar um espaço de contemplação no meio da cidade, que exige tempo ao espectador para que esse espaço se revele iniciático e a experiência assuma um carácter transcendente.
O tema da luz aparece metaforicamente associado à ideia de iluminação , no sentido de quem é iluminado , tornando-se a instalação um espaço de luz . Esta ideia é acentuada pela luz que emana da estrutura, através da parede translúcida, surgindo como uma casa da luz .
O fundo negro faz o raccord com o céu à noite. A imagem surge assim entre o céu e a terra, nem céu nem terra, um não-lugar

2008

INDIVIDUAL
LUÍS CAMPOS > OBRAS 1982_2008 > FOTOGRAFIA E VIDEO
_Governo Civil de Lisboa, Centro Cultural de Cascais_Fundação D. Luís I,Centro de Artes de Sines, Museu da Luz (Aldeia da Luz),
MACE_Museu de Arte Contemporânea de Elvas/Colecção António Cachola,Fundação António Prates (Ponte de Sôr)
A unicidade do trabalho de Luís Campos, o percurso da carreira e a sua evolução permitiram considerar que era chegado o momento de proporcionar uma visão alargada da sua obra, razão pela qual se organizou a iniciativa LUIS CAMPOS > 1982_2008 > Fotografia & Vídeo que aproveita a existência de Corpos-de-Trabalho singulares e explora a fragmentação dos locais de exposição como uma mais valia que urge potenciar como um Percurso.

Assim, as séries principais da sua obra, algumas inéditas, foram apresentadas em seis exposições simultâneas, entre 17 de Julho e 21 de Setembro, num itinerário que engloba Lisboa, Cascais e alguns locais no Alentejo: Governo Civil de Lisboa, onde foi exposto um trabalho inédito de 1983 “Empty Cities”; Centro Cultural de Cascais_Fundação D. Luis I, onde foi exibida a série “Memória de Água”de 2001 e um vídeo de 2008 “Dog`s city”; CAS_Centro de Artes de Sines, que mostrará oito fotografias da série “Transurbana”, de 1994; Museu da Luz/Aldeia da Luz, onde foi exposto o principal núcleo do trabalho “Aldeia da Luz”, com uma peça musical de João Paulo Feliciano; MACE_Museu de Arte Contemporânea de Elvas/Colecção António Cachola, onde foi exibida a vídeo projecção “Limbo”, com uma peça musical de Rui Gato, e foram mostradas as dez fotrografias da “Última visão dos heróis”; finalmente na Fundação António Prates/Ponte de Sor esteve um conjunto de retratos e autoretratos, incluindo algumas fotografias da série “Limiares” e o painel “One killer and thirty five good people”.

Esta iniciativa, organizada pelo Museu Temporário e comissariada por Luís Serpa, permitiu um percurso por uma obra coerente, onde os temas ligados à representação do rosto, da perda no sentido genérico e em particular da perda da ligação das pessoas aos sítios são recorrentes. Por outro lado, esta iniciativa veio, pela primeira vez, criar um itinerário artístico, cultural e gastronómico que coloca Lisboa, Cascais e o Alentejo numa situação de eficaz cumplicidade territorial, chamando a atenção para um conjunto de equipamentos de elevado nível arquitectónico, que surgiram nos últimos anos, ao serviço da arte contemporânea, com vocação regional, nacional e, mesmo, internacional e que vão contribuir para a renovação urbana e para a revitalização cultural destas zonas.

Estão, deste modo, criadas as condições para o aparecimento de uma Rede e de uma Parceria que promete poder ter continuação num próximo futuro, pela organização de um Projecto de Continuidade capaz de implementar a afirmação de um Itinerário Cultural único em Portugal.

2009

INDIVIDUAL
all2
2009 ALL-INCLUSIVE _Allgarve/Galeria Trem, Faro
2011 ALL-INCLUSIVE _Galeria Teatro Municipal de Almada, Almada
All-inclusive refere-se a uma tipologia de resorts. O Resort é um espaço de transição, uma gigantesca encenação habitada, uma terra de ninguém, a que ninguém pertence. Uns fazem a catarse de um ano de trabalho, procurando, num tempo condensado, uma hipervivência de sensações que preencham o espaço onírico do resto do ano. Outros procuram apenas parar e deixar deslizar o tempo ao sabor duma programação externa. O vazio fica mais exposto.
Também os empregados são de outras terras, vieram em busca de emprego, estas não são as suas casas, as suas famílias estão longe. Todos são actores duma encenação que proporciona aos clientes uma oportunidade de evasão.
O Resort é um espaço cénico, mais dramático à noite, sob a luz branca dos projectores incindindo sobre as árvores, sobre as fontes, as piscinas, os toldos desabitados.
Ao crepúsculo um pianista derrama a sua arte no vazio de um palco, esbarrando na indiferença das conversas distraídas dos clientes do bar.
Epílogo: o espectáculo nocturno, anunciado em quatro línguas, feérico, colorido. Fim súbito. Os projectores apagam-se, o silêncio instala-se e as ondas que morrem na praia continuam a murmurar.

2009

INDIVIDUAL
TRANSFRONTEIRAS _com a OrchestrUtópica, Culturgest, Lisboa
Transfronteiras um concerto-instalação
A OrchestrUtopica dedica a programação da temporada 2009-10 à ideia de interacção. Sem dúvida uma das grandes tendências das artes e da música contemporâneas, a interacção é potenciada pela emergência das plataformas digitais que permitem cruzamentos e ligações mais puras ou mais impuras, experiências de contaminação, de explosão de limites e de fronteiras entre artes, revelação de correspondências, de interpenetrações de linguagens e de artes. São fronteiras que se transpõem reciprocamente, desfazendo para sempre as separações mais ou menos rígidas entre as artes e entre elas e o público. Destruindo fronteiras, abrindo novos espaços, propõe-se também, afinal, um outro protocolo de entendimento entre artes e linguagens que se ancora na experiência estética partilhada e interagida. Experiências que correspondem, afinal, a interrogações sobre o futuro. TRANSFRONTEIRAS é uma proposta de concerto visual em que a OrchestrUtopica continua a questionar as limitações do formato dominante da produção e da recepção musical (o concerto) e a explorar novas possibilidades de inter-relação entre público e artistas, e entre diferentes artes. A ideia não é nova, porém.
Mas, para além de epifenómenos historicamente conhecidos (Wagner, Cocteau, etc.) e do curso autónomo que o género ópera tem seguido, há que reconhecer que as artes visuais, neste campo, têm revelado uma maior agilidade, acedendo ao plano da opera (obra) através da instalação em consequência da questionação dos seus limites internos. Este concerto propõe esse encontro: entre a obra e mundo imagético do artista Luís Campos e a música contemporânea – num acontecimento único. E não é sem razão que aqui invocamos a ideia de ópera – o grande género e o conceito – pois ela tem sido o modelo por excelência de uma arte de interacções. É também no olhar “dramático” de Luís Campos que encontramos um ponto de contacto essencial inesperadamente musical. Para além da questão tecnológica, o que está verdadeiramente em discussão é o problema da interacção. No fundo, recuando a Wagner (para não irmos mais longe), é preciso reconhecer que um princípio começava a ruir: o do momento musical. A proposta wagneriana, no final do século XIX, era a de um teatro concebido como um espaço de imersão, ou seja, o local onde a obra era dada a público obrigava pela sua condição física à imersão do público na experiência do acontecimento. Esse momento modernamente fundador tem sido por vezes sobreavaliado em relação aos problemas concretos da ópera enquanto género, ou seja, naquilo em que aquele modelo subvertia nas formas tradicionais de recepção da ópera. Porém, o seu interesse renova-se quando reconhecemos nos seus pressupostos elementos que nos permitem compreender e agir sobre o contemporâneo. O desafio de programar um concerto audiovisual, ou seja, de programar peças visuais e peças musicais em interrelação, só encontra correspondente na própria tarefa de compor e criar um obra nova. Este concerto é concebido, ele mesmo, como uma obra una. É portanto, composto. Sendo as obras dentro dele parte de um programa dado a ver e a escutar em simultâneo, de modo a provocar uma forma de imersão que rejeita, apesar de tudo, a irracionalidade da comunhão wagneriana e propõe antes um projecto de experiência racional de relação com a simultaneidade. Não se trata, portanto, neste concerto, de uma nova forma de contemplar a obra visual de Luís Campos (com música), nem de uma nova forma de ouvir a música dos diferentes compositores (com imagem). Trata-se antes de viver a experiência – simultaneamente racional e emocional – de fazer parte de uma realidade proposta, diferente da realidade. Na verdade, a questionação da forma concerto (na sala de concertos) corresponde à questionação da forma exposição (de dar a ver) – na galeria e no museu (duas instituições problemáticas). A proposta que fazemos é a de uma plataforma artística composta num plano antecipador de futuros: o plano da opera (obra) que se constitui numa relação diferente com o público, questionando distâncias e promovendo experiências.
 
Imersão
Para além da música (dos sons), neste concerto predominam imagens. São imagens que possuem um programa próprio. Mas a imagem define-se a si mesma por relação com outra coisa fora dela, outra imagem ou fantasia que pode ser usada para reafirmar o poder da fabricação de imagens. No plano da imaterialidade da imagem (vídeo) na sua relação com a música (uma arte “cega” e invisível) cria-se um espaço fecundo ancorado na experiência estética (da sensibilidade) e humana de imersão num dispositivo concentrado. A integração de todos os elementos num momento de imersão cria a excepcionalidade do acontecimento. Se por um lado há as imagens e por outro a música, no fundo o acontecimento consiste na experiência de participar na produção do acontecimento. A simulação de uma utopia num espaço de recreação heterotópica do real (Foucault) um “contra-lugar” (não um u-topos, mas um hetero-topos) consiste numa espécie de utopia activada excepcionalmente num espaço isolado, na qual o real que existe na cultura é representado em diferentes formas em simultâneo, é discutido e invertido. Lugares assim estão fora de todos os lugares. Trata-se pois de uma disfuncionalidade paradoxal. Não só do espaço do concerto (e da ideia de concerto – que tem pouco mais de 200 anos), mas do espaço da realidade. A excepcionalidade deste concerto consiste simplesmente no facto de ele se propor como um recorte na realidade, uma experiência única num hetero-topos, num não espaço de formas sonoras e visuais. Nesta heterotopia de acontecimentos geram-se por si mesmos novos tipos de interacção com o público e propõem-se assim diferentes formas de interpretação. Aqui experiência é mediada através do corpo: o grau de estímulo que faz mover as nossas faculdades sensoriais está directamente ligado ao impacto que essa experiência têm em nós. Uma obra experimentada num ambiente de imersão pode ser entendida como um misto de prazer sensorial e narcísico que se propõe aos participantes. Nas palavras de Frederic Jameson, de facto, “estamos submersos até ao ponto em que os nossos corpos pós-modernos estão desligados das coordenadas espaciais e somos praticamente incapazes de distanciação”. Este “modo de imersão”, é uma condição-chave para a contemplação contemporânea (para o exercício da visão e da audição). Contra a perspectiva geométrica que ordena e estabiliza o espaço e as percepções do real, o contemporâneo deu lugar à relatividade de um espaço acidentado, descontínuo e heterogéneo e encontrou no “modo de imersão” uma forma de regresso ao Eu interior mediada pelo corpo e pela experiência estética.
 

2011

INDIVIDUAL
VESTÍGIOS _Museu da Electricidade, Lisboa
Vestígios
O conjunto de 39 fotografias e dois vídeos que constituem esta exposição foram tiradas em 2000, a convite da comissão instaladora da Fundação EDP. Nesta altura, o Museu de Eletricidade encontrava-se no início de um longo processo de restauro. Era necessário encontrar espaços para uma exposição que reforçasse a vontade da Comissão Instaladora da Fundação EDP em promover a arte contemporânea. No vasto campus, um edifício destaca-se ainda hoje pelo inesperado perfil exterior, em torre, e pelo precioso segredo do seu espaço interior: é a chamada Carpintaria e, a ela adossado, o Armazém Novo. Na realidade, estes foram os primeiros edifícios a serem construídos nesta área, datando do fim do século XIX, tendo albergado a Refinaria da Companhia do Assucar de Moçambique. A escolha destes lugares foi simples mas a sua adaptação à nova função, complexa. Desativados na década de 1980, estes espaços eram depósito de tudo o que se estragava ou era dado como obsoleto.
As fotografias seleccionadas, de um conjunto de mais de 300, são originais Polaroid SX-70 digitalizados, que fixam os vestígios da vivência de muitos operários que ali trabalharam: máquinas, instrumentos, tábuas, serradura, catálogos, listagens, calendários, livros de registos e outros.
A exposição integra ainda dois vídeos: “Carpintaria “ e “Percurso”. O primeiro tem um único plano e representa a assemblage de cinco filmes que formam uma ampla panorâmica da carpintaria. Na primeira parte ouve-se a música de Rui Gato, que resultou do tratamento digital de sons de carpintaria e depois Joaquim Furtado diz poemas de Walt Whitman, Herberto Helder, F Nietzche, Jorge de Sena e Paul Bowles, alternando com leituras de escritos dos operários encontrados na carpintaria, ditos por Márcia Breia. “Percurso” é travelling nocturno de 12 minutos ao logo do edifício, entrecortado por imagens sobre expostas e fantasmáticas que resultam de disparos de flash, rendidos a 1% da velocidade normal. A música original é de José Júlio Lopes.

2023

INDIVIDUAL
FADING _Galeria Carlos Carvalho - Arte Contemporânea, Lisboa
Fading
“Fading” é uma exposição sobre a memória, o desaparecimento e a perda.
Trata-se de um conjunto de fotografias de animais selvagens no seu habitat natural, tiradas ao longo de 12 anos em 14 países como Cuba, Brasil, Quénia, México, Canadá, Zimbabué, Botswana, EUA, Argentina, Indonésia, Maldivas, Equador (Galápagos), Colômbia e Sri Lanka. São fotografias a preto e branco, de 110X146 cm, com uma elipse preta esbatida à volta de uma imagem central, que alude a um processo cinematográfico de desaparecimento da imagem, designado por fading.
São fotografias que guardam a memória de vultos, de corpos, de cheiros, de horizontes, de espectros de luz, de contrastes e de experiências emotivas de múltiplos encontros com animais selvagens, tão diversos, mas também tão próximos de nós humanos na biologia, no comportamento, nas expressões, nos olhares e no nosso destino comum. São seres que veêm os seus habitats a encolher e a desaparecer de forma dramática, pela desflorestação, pela caça, pelas culturas, pela criação de gado, pela sobrepopulação humana e pelas alterações climáticas. Desde a revolução industrial, as atividades humanas têm destruído e degradado florestas, pastagens, pântanos e outros ecossistemas importantes. Este rápido desaparecimento de ecossistemas tão frágeis faz com que estes seres estejam a extinguir-se: os últimos 50 anos, houve uma diminuição média de 70% na população de mamíferos, aves, anfíbios, répteis e peixes (WWF, Living Planet Report 2020). A extinção destes animais anuncia a possibilidade de extinção da nossa própria espécie.
Esta exposição será complementada com um vídeo, também a preto e branco, onde o bailado subaquático de um leão marinho, em câmara lenta, será intercalado com dados sobre a quantificação e a velocidade desta extinção.
O processo de captura destas imagens envolve uma contradição, porque o turismo em zonas selvagens contribui, em si mesmo, para este processo de destruição, mas esse facto é algo que tem que ser assumido e esta exposição é uma indelével redenção dessa consequência.
O tema da perda é recorrente no meu trabalho. Foi assim na série “Empty Cities” (1983) ─ que pretendia encenar uma cidade pós-humana ─ na exposição “Transurbana” (1994) que se focava na perda da sensação de pertença a um lugar a que as cidades actuais condenam muitos dos seus habitantes ─, assim como no trabalho “A Última visão dos heróis” (1995) ─ que encenava a última imagem que alguns heróis, que deram a sua vida por causas, terão visto imediatamente antes de morrerem. Também o vídeo e as fotografias do “Futuro imperfeito” (2000) pretendiam encenar o envelhecimento do meu rosto e assim a morte a acontecer quando nos olhamos ao espelho. As séries “Aldeia da Luz” e “Memória de Água”(2002) aludiam à perda da memória dos pequenos sítios, da identidade dos lugares, das pessoas, dos usos e costumes, perda que se acentua lentamente, mas que é ainda mais brutal quando é decidida a prazo, como foi o afundamento da Aldeia da Luz.
“Fading” não são fotografias de natureza, não sou um fotógrafo de natureza ─ sou um artista que usa a fotografia e o vídeo para comunicar com os outros, atingir o espectador no punctum, de que falava Roland Barthes, dar a ver o que é invisível, transportar o espectador “através de fronteiras ou para zonas interditas”, no sentido de um “passador”, na acepção de Michel Certeau.
Estas fotografias não são representações de animais, são uma reinterpretação de imagens fugazes, de memórias em evanescência, de um mundo em desaparecimento, que é o nosso.
Estas imagens são um ritual de separação, um grito de dor perdido num coro imenso, que pretende acordar as pessoas para lutarem contra estas ameaças que pairam sobre o nosso futuro e sobre o futuro das gerações vindouras.